Sempre gostei de praticar esportes: futebol, basquete, voleibol, handebol.
Até os 50 anos jogava futebol regularmente. Mas chegou um momento que estava me lesionando muito, jogando mais verbalmente do que fisicamente e maior parte dos meus amigos haviam pendurado a chuteira. Decidi parar também. Não tinha mais aquela alegria de antigamente. O ciclo encerrou.
Comecei a correr. Inicialmente sozinho, sem orientação profissional. De maneira simplista e simplória pensava que um tênis – que não era apropriado para corridas, um calção, uma camiseta, com ruas e parques para serem percorridos e desbravados eram suficientes. Corria 2 a 3 vezes na semana.
Um certo dia, o clube do qual sou sócio, formou um Clube da Corrida. Num primeiro momento fiquei relutante em ingressar. Passou pela minha cabeça horários, regras, treinos, percursos pré-definidos, competição, tudo que eu não queria.
Mas optei por entrar. Decidi verificar no gemba (local verdadeiro onde as coisas ocorrem) como seria o desenrolar das atividades. E fui conhecer o novo. Não o novo esporte, mas o novo método, a nova equipe, o novo espaço. O diferente. Pensei – nem melhor nem pior, mas diferente. Como saber sem tentar!
Para minha grata surpresa, foi uma decisão muito acertada que tomei, assim como fazer aulas de dança, e sair para dançar com minha mulher, e praticar medição. Literalmente saindo da caixa para aumentar a criatividade.
Estas atividades ajudam-me demasiadamente na minha vida profissional, tanto na academia, como professor universitário, como nas empresas, como executivo e gerente de projetos. Este auxílio se faz presente não só na parte física, emocional e psicológica, mas principalmente na dimensão gerencial, tanto de planejamento estratégico e operacional, definição de objetivos e métodos, formação, motivação e retenção do time, acompanhamento, feedback, entre outros, que relatarei brevemente nos tópicos abaixo.
As correlações diretas entre clube da corrida (da qual faço parte) e gestão são explícitas. Convido-os a refletirem em vossas organizações os pontos citados abaixo:
- Diversidade – o time é formado por pessoas heterogêneas – faixa etária, sexo, atuação profissional, disponibilidade de horários, entre outros aspectos, tendo em comum somente o amor pela corrida. Diversidade é um valor. Muitas empresas inserem essa palavra no conjunto de valores da companhia, mas aplicar e lidar cotidianamente com a diversidade é complexo.
- Objetivos e Metas – os objetivos e as metas desses amigos corredores são totalmente distintos. Apesar de haver desdobramento de objetivos e metas, metas crucialmente importantes (MCI), entre outros conceitos. conflitos departamentais e interesses individuais, notadamente na alta gerência existem, além da comunicação não levar essas informações para os níveis inferiores do organograma.
- Liderança – é importante que o treinador lidere positivamente a equipe, respeitando os objetivos, metas e limites de cada corredor amador, desafiando-os de forma paulatina no tempo e formando um ambiente organizacional alegre e motivador, de maneira muito profissional. Liderar não é fácil mas é extremamente necessário. No cenário atual, e nos clubes de corrida, o líder servidor, aquele que inspira a equipe, serve aos seus comandados, que conquista a confiança e o respeito do grupo, assume a responsabilidade, entre outros pontos, enquadra-se muito bem.
- Técnica, Processo, Planejamento, Medição e Controle – eu achava que sabia correr, mas que nada. Não tinha técnica alguma. A forma de treinar, e a rotina de treinos que eu praticava era totalmente equivocada. Neste sentido, assim como nas empresas, é importante que haja um profissional qualificado para aplicar as técnicas corretas para cada tipo de corredor, definir formalmente os processos de negócio e planejamento dos treinamentos, além de promover a medição, monitoramento e controle desse processo. Valorize a formação. Nada mais prático do que uma boa teoria. É muito mais positivo, em todas as esferas e dimensões, ter profissionais de nível técnico adequado para executar as atividades. Saí melhor, mais bonito, mais barato e mais rápido.
- Disciplina – Mesmo com todo o amadorismo presente, é necessário disciplina, para manter a regularidade, presença, frequência e cumprimento dos treinos estipulados, para evitar lesões, que ocasionarão interrupção da atividade – e isso é muito desalentador – assim como melhorar de forma incremental o resultado e estado físico de conclusão da prova (temos que terminar a prova bem, temos que retornar para casa bem). Não vale o mesmo para nosso trabalho?
- Colaboração – somos seres humanos, e sobrevivemos porque somos uma espécie colaborativa. Nesse clube da corrida não ocorre competição. Os amigos se ajudam – quer seja nos treinos ou nas corridas, como por exemplos diminuindo o somos seres humanos, e sobrevivemos porque somos uma espécie colaborativa. Nesse clube da corrida não ocorre competição. Os amigos se ajudam – quer seja nos treinos ou nas corridas, como por exemplo, diminuindo passo para correr junto, ou abandonando a corrida quando um amigo sente-se mal e desiste da corrida. Não esta na hora de repensar o modelo e as crenças errôneas das empresas, de promover a competição, até internamente entre os departamentos com intuito de obter promoção ou PLR, para um modelo mais colaborativo, onde ao final todos ganham?
- Comunicação – além da grande interação e comunicação direta existente nos treinos, existe um grupo de whatsapp exclusivo para tratar de assuntos de corrida – textos, eventos, treinos, fotos das provas, etc. Apesar de vivermos na era do conhecimento, com uma vasta gama de ferramentas computacionais, que empresa não tem problema de informação?
- Celebração – todo último domingo do mês tem um café da manhã com o treinador (similar ao café com diretor ou presidente), após a corrida feita num parque com árvores, flores e lagos (de volta a origem – a natureza). É importante celebrar para promover integração e ganhar energia mental para as próximas atividades. Não requer dinheiro. Requer atitude. Requer compartilhamento.
- Espírito de pertencimento – todos, indistintamente todos, sem haver a obrigação, comparecem aos treinos e corridas com a camiseta do clube da corrida, demonstrando senso de pertencimento e engajamento neste ambiente onde a missão e os valores estão em perfeita sintonia com que cada membro acredita. As empresas querem efetuar a retenção de talentos, dessa nova geração, não ligada tanto a dinheiro, mas a autonomia, liberdade para criar, etc. Pense neste tópico.
Que empresa não gostaria de ter corredores (profissionais) dedicados assim, num ambiente tão saudável. Fica a dica para pesquisa: por que isso ocorre? Modelo de Gestão? Alinhamento de Valores? Bem-estar? Engajamento?
Somos todos corredores. A diferença é que alguns correm mais rápido e outros mais devagar. Mas, acima de tudo, somos todos corredores, e já que começamos, vai ser difícil parar de correr num ambiente bacana assim!
Josadak Marçola